Nasci em 1950, por acaso
não sou dr., nem condecorado, nem rotulado
nem nada
Quando era pequeno, matei uma borboleta que enterrei no quintal; essa borboleta era um avião inimigo e tinha nas asas uma cruz gamada, e um cifrão.
Cresci até um metro e 72, e depois parei.
«Um dia de manhã acordei e disse: sou pintor –
Não sou (pinto) mas nessa altura estava convencido disso».
Hoje estou convencido de outras coisas.
Faço bonecos, cuspo, lavo a cara de vez em quando
e não procura nada:
encontro.
Quando morrer, ainda vai haver muros a dividir as terras (que eu sei disso), tipos de pata em cima de gente que não sorri:
mas um dia acabará, tenho a certeza.
Por isso quando morrer, descanso, - digo: paz.
E como, «graças a deus sou ateu», entro tranquilamente no ciclo natural, sem receio, sem medo, sem terror.
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Comprem, meus senhores, comprem!
E quem não comprar ao menos pode ver:
tenho aqui, os monstros – mais que as
mulheres barbadas ou serpentes
aqui estão os malabaristas e os palhaços
os ladrões e os vadios os trabalhadores
E os actores
Também tenho retratos autografados de senhores
engravatados, cartazes de cidades e outras maravilhas
Aqui não se engana ninguém – toda a gente sabe
à entrada que é mentira.
1- Venho contar histórias, das terras por onde não andei
das coisas que vi e que não vi, no meio destas cobras
que sobem desde um cesto (e sem ninguém tocar flauta)
2- falo, digo eu, das crianças tristes de um bairro qualquer
que não são meninos, das mãos com calos das pernas com varizes
de pessoas que até passam por nós na rua.
falo, digo eu, de coisas que vocês conhecem (e eu não, que só as vi passar) de cidades poluídas e dos campos das montanhas
como de coisas que vêm nos jornais.
3- E aproveito de passagem para apontar com um dedo
4- a ordem e o progresso, os deuses e os escravos
o dinheiro os chefes as nações – vivam os policias que disparam as armas para manter o ópio
vivam os Senhores e essa burguesia de discreto
encanto liberal
a continuidade
5- É mentira, meus senhores
mas se ninguém acusa ninguém, que deus nos livre,
ao menos temos a feira deste tempo que se fosse de revolução era de festa
mas não é
6- Vendo, retratos de meninos tirados para o padrinho dr.
paisagens de terras onde sou estrangeiro
- que o meu país ainda é longe e não o lembro
mas também forças de escravos que se libertam
7- Pinturas, que pinturas tenho para vos enganar os olhos,
momentos instantes passageiros sem mais história que uma reacção química, não é.
arte não vendo, que arte é cavar a terra, levantar casas,
fazer o pão e o telhado ao som dum canto
Arte é cada naco desgarrado do pensamento de cada um de vós
- e não o vendeis,
porque nem se pode.
SEM SENSO
-
MARIA TEREZA BRAZ
SEM SENSO
Sabes Teresa
minha vizinha ,
tu que te entreténs
a alimentar as pombas
todas as manhãs,
não podes também saciar
os gatos v...
Há 4 anos
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