sexta-feira, 28 de agosto de 2009

VICTOR SILVA BARROS
EXPÕE INDIVIDUALMENTE NA
GALERIA VIEIRA PORTUENSE
A PARTIR DE 19 DE DEZEMBRO

terça-feira, 25 de agosto de 2009

“Com Amadeu Costa dez anos depois - Arte e os Artistas”


Exposição promovida pelos netos de Amadeu Costa e a VianaFestas, inaugurada, no dia 8 de corrente mês, no Museu do Traje, nesta cidade[VIANA DO CASTELO].Apresenta obras de Alberto Silva, Américo Carneiro, Aníbal Alcino, António Alves, António Pedro, António Silva, Araújo Soares, Arnaldo, Augusto Alves, Barreiros da Cunha, Carlos Costa, Carolino Ramos, Elder de Carvalho, Ezequiel Augusto, Fernanda Soares, Francisco Franco, Manuel Rocha, Mário Emílio, Mário Rocha, Meira Gomes, Paulo Barreto, Rui Alpuim, Rui Pinto; Salvador Vieira e Victor Silva Barros.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

[...] El surrealismo no está hecho para complacer a aquellos que tienen necesidad de una «línea» política u otra: demasiado anarquista para la mayoría de marxistas, demasiado marxista para los anarquistas; demasiado amante de la poesía y de la pintura para los políticos, demasiado deseoso de revolución para los escritores y artistas; demasiado inclinado a las investigaciones teóricas para los activistas, demasiado indisciplinado para los profesores; demasiado poéticamente riguroso para los chantajistas espiritualistas, demasiado cercano a lo maravilloso para los aquejados de racionalismo instrumental; demasiado freudiano para la izquierda positivista y puritana, demasiado salvaje para los médicos usurpadores y los conservadores del psicoanálisis [...]. El surrealismo sólo puede florecer a su manera. Contra y alejado de los paradigmas dominantes [...].

in "¿Qué hay de nuevo, viejo?"
Grupo Surrealista de Chicago
Textos y declaraciones del Movimiento Surrealista de los Estados Unidos (1967-1999)
Edición, traducción y notas del Grupo Surrealista de Madrid.
ISBN: 978-84-935704-9-1 · 248 páginas · 12 x 17 cm · 12,50 euros · Logroño, abril de 2008.
www.pepitas.net

sábado, 15 de agosto de 2009

Alexandre O'Neill

Mas de repente voltas
numa dor de esperança sem razão de ser
Da sua indiferença
agressivamente as coisas saem
Sentimo-nos cercadosameaçados pelas coisas
e agora lamentamos o tempo perdido
a dispô-Ias a nosso favor
Porque é tempo de romper com tudo isto
é tempo de unir no mesmo gesto
o real e o sonhoé tempo de libertar as imagens as palavras!
das minas do sonho a que descemos
mineiros sonâmbulos da imaginação
É tempo de acordar nas trevas do real
na desolada promessado dia verdadeiro

sábado, 8 de agosto de 2009

Victor Silva Barros está representado em colecções particulares e oficiais em Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Brasil, Holanda, Suíça, Alemanha, Bélgica, Estados Unidos e Rússia.Individualmente apresentou mostras nos museus de Ovar, Albano Sardoeira, Amarante, Martins Sarmento, Guimarães, nas Galerias Picasso e 1990 d. C., Viana do castelo, Árvore, Porto, Primeiro de Janeiro, Porto e Coimbra, Capitel, Leiria (Turismo), Caldelas, Póvoa do Varzim, Chaves, Casa da Cultura, Fafe, Horizonte, Figueira da Foz, Convés, Aveiro, Orfeu, Androx e Caixa de Vigo, Deputatión Provincial de Lugo, Casa da Cultura de Ourense, Centro Unesco do Porto, Porto, Galeria Municipal, Aveiro, Museu Municipal Rámon Maria Aller, Lalin, Galiza…Em 1991 o Museu dos Biscaínhos de Braga dedicou-lhe uma retrospectiva da obra dos anos 80.Colectivamente participa em mostras em Viana do castelo, Porto, Lisboa, Aveiro, Vila Nova de Famalicão, Ibiza, Bilbao, Burgos, Vigo, Santander, Vallodolid, Madrid, Monte Carlo, Tokio, Okinawa, Nara, Fukuoka, Langeac, Rion, Chatel-Guyon, Puy-en-Veley, Saint- Julien Chapiteuil, Paris, Quebec…salientando-se:1981:«Inaugural Exhibition of de Japan International Artist Society», Art Museum of China,Tokio, Yamakataya Department Stores, Okinawa. Perfectural Museum, Nara.1982: Fukuoka Perfectural Culture Hall, Fukuokas. «XV e XVII Grand Prix International d’ Art Contemporain», Monte Carlo. «Biennale International Quebec/ França, Galeria Anima G., Quebec. «Ibizagrafic 74», Museu de Arte Contemporaneo de Ibiza.«Artender 82», FFeira International de Muestras em Bilbao. «Galería Arlazón», Burgos. «Galeria Millares», Madrid. Salão dos Independentes, Paris. «Exposition International de Paris», Galerie de Nesle, Paris. «IX Hall Au Toile», Marie du VI arrindissement, Paris, «Victor Silva Barros/ Álvarez Domingues/ Cristian Léo», Galerie du licorne Hotel, Puy-en- Velay, I e II Exposições Colectivas da Cooperatgiva Árvore, Porto. «Arte ao Ar Livre», Aveiro, «Biennale International D) Auvergne». Chatel-Guyon. «Arte Nuevo-Años 90», Centro Cultural Galileo Madrid. Inter- Artes 93 e 94, Vila Nova de Famalicão, «II Prémio de Pintura Eixo do Atlântico», Casa das Artes, Vigo. Itenerante Portugal Galiza.Há várias referências e análises criticas em numerosas publicações , das quais se destacam: «Portuguese 20 th Century Artists», Londres 1977, « Anuaires National dês Beux – Arts, «French Fine Arts Directory», Editions Thibaud, Paris 1983, 1994, r «El Colectivo Andox», Vigo 1989.Entre 1968 e 1977, colabora em vários jornais nacionais com contos, poesia, textos de investigação, teóricos e de crítica de Arte: «REPÚBLICA»,«PÁgina Um», e «Diário de Coimbra» entre outros.em 1988 publica «On road», colecção de textos de sua autoria inseridos em catálogos entre 1969 e 1988.

A LIBERDADE VIGIADA

50x60cm
óleo sobre tela
2006


Não digas o teu nome: ele é Esperança
vai até aos que sofrem sozinhos
à margem dos dias
e é a palavra que não escrevem
sobre as quatro paredes do tempo
o admirável silêncio que os defende
ou o sorriso o gesto a lágrima
que deixam nas mãos fiéis
Não digas o teu nome: quem o não sabe
quem não sabe o teu nome de fogo
quem o não viu entrar na sua noite
de pobre animal doente e tomar conta dela
mesmo só pelo espaço de um sonho
O teu nome
até os objectos o sabem
quando nos pedem um uso diferenteo
s objectos tão gastos tão cansados
da circulação absurda a que os obrigam
As coisas também gritam por ti
E as cidades as cidades que morreram
na mesma curva exemplar do tempo
estão hoje em ti são hoje o teu nome
levantam-se contigo na vertigem
das ruas no tumulto das praças
na espera guerrilheira em que perfilas
o teu próprio sono
Alexandre O'Neill

O GUARDIÃO DO SILÊNCIO

90x54,5cm
óleo sobre tela sobre platex com figura de madeira
2004

Dá-nos os passos os teus passos
de manhã triunfal de cidade à solta
os gestos que devemos ter
quando a alegria descobrir os dedos
em que possa viver toda a vertigem
que trouxer da noite
os primeiros dedos do sonho
do teu sonho nosso sonho mantido
mesmo no mais íntimo abandono
mesmo contra as portas que sobre nós:
em silêncio e noite
em venenosa ternura
em murmúrio e rezas
e fecharam já
mesmo contra os dias vorazes
que por todos os lados nos assaltam
e consomem
mesmo contra o descanso eterno
a viagem fácil
com que nos ameaçam vigiando
todo o percurso do nosso sono
interminável sono coração emparedado
no muro cruel da vida
desta que vivemos que morremos
assim esperando
assim sonhando
sonhando mesmo quando o sonho
ignorado recua até ao mais íntimo de cada um de nó
se é o gemido sem boca
a precária luz que nem aos olhos chega
Alexandre O'Neill

OS REENCONTROS QUOTIDIANOS

100x61cm
óleo sobre tela
2004

Impossível
Impossível cantar-te
como cantei o amor adolescente
colorindo de ingenuidade
paisagens e figuras reduzindo-o
à mesma atmosfera rarefeita
do sonho sem percurso no real
Impossível tomar o íngreme caminho
da aventura mental
ou imaginar-te pelo fio estéril
da solitária imaginação
Tão-pouco desenhar-te como estrela
neste céu infame
dizer-te em linguagem de jornal
ou levar-te à emoção dos outros
pela voz contrafeita da poesia
Impossível
Impossível não tentar dizer-te
com as poucas palavras que nos ficam
da usura dos dias
do grotesco discurso que escutamos
proferimos
transidos de sonho no ramal do tempo
onde estamos como ervas
pedrinhas
coisas perfeitamente inúteis
pequenas conversas de ferrugem de musgo
queixas
questiúnculas
arrotos comoventes
Alexandre O'Neill

JUGOSLÁVIA 1999: IN MEMORIAM

61x82cm
óleo sobre tela
1999


Que estupidez o sangue nas calçadas!
O sangue fez-se para ter dois olhos,
um lépido pé, um braço agente,
uma industriosa mão tocante.
Que estupidez o sangue entre as palavras!
O sangue fez-se para outras flores
menos fáceis de dizer que estas
agora derramadas.
Alexandre O´Neill

O INTRUSO (OU O PADRE ETERNO VIGIANDO O HARÉM)

100x61cm
óleo sobre tela
2007

quando do cavalo de tróia saiu outro
cavalo de tróia e deste um outro
e destoutro um quarto cavalinho de
tróia tu pensaste que da barriguinha
do último já nada podia sair
e que tudo aquilo era como uma parábola
que algum brejeiro estivesse a contar-te
pois foi quando pegaste nessa espécie
de gato de tróia que do cavalo maior
saiu armada até aos dentes de formidável amor
a guerreira a que já trazia dentro em si
os quatro cavalões do vosso apocalipse
Alexandre O'Neill

O PAPÃO
As crianças têm medo à noite, às horas mortas,
Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas,
Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.
Não te rias da infância, ó velha humanidade,
Que tu também tens medo ao bárbaro papão,
Que ruge pela boca enorme do trovão,
Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,
Um papão que não faz a barba há seis mil anos,
E que mora, segundo os bonzos têm escrito,
Lá em cima, detrás da porta do infinito!


Guerra Junqueiro

JOGOS DE SEDUÇÃO


79,5x29,3cm
óleo sobre tela sobre platex e colagem
2004
Nesta luz quase louca
que se prende aos telhados
às árvores aos cabelos das mulheres
aos olhos mais sombrios
falamos de ti do teu alto exemplo
e é com intimidade que o fazemos
falamos de ti como se fosses
a árvore mais luminosa
ou a mulher mais bela mais humana
que passasse por nós com os olhos da vertigem
arrastando toda a luz consigo
Alexandre O'Neill

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O ATELIER ABANDONADO OU O DESEJO DO EFEITO BORBOLETA

74x57cm
óleo sobre tela
2008

E tu, derradeira geração perdida,
confia-me os teus sonhos de pureza
e cai de borco, que eu chamo-te ao meio-dia...
Por que não põem cifrões em vez de cruzes
nos túmulos desses rapazes desembarcados p'ra morrer?
Gosto deles assim, tão sem futuro,
enquanto se anunciam boas perspectivas
para o franco frrrrançaise os politichiens si habiles, si rusés, evitam mesmo a tempo a cornada fatal!
Les portugueux... não pensam noutra coisa
senão no arame, nos carcanhóis, na estilha,
nos pintores, nas aflitas,
no tojé, na grana, no tempero,
nos marcolinos, nas fanfas, no balúrdio e
... sont toujours gueux,
mas gosto deles só porque não querem
apanhar as nozes...
Dize tu: - Já começou, porém, a racionalização do trabalho.
Direi eu: - Todavia o manguito será por muito tempo
o mais económico dos gestos!
*
Saber viver é vender a alma ao diabo,
a um diabo humanal, sem qualquer transcendência,
a um diabo que não espreita a alma, mas o furo,
a um satanazim que se dá por contente
de te levar a ti, de escarnecer de mim...
Alexandre O´Neill

SÍSIFO OU O DECURSO DOS DIAS

54x30cm (24x30x30cm)
óleo sobre tela
2008

Estirado na areia, a olhar o azul,
ainda me treme o parvalhão do corpo,
do que houve que fazer para ganhar o nosso,
do que houve que esburgar para limpar o osso,
do que houve que descer para alcançar o céu,
já não digo esse de Vossa Reverência,
mas este onde estou, de azul e areia,
para onde, aos milhares, nos abalançamos,
como quem, às pressas, o corpo semeia.
Alexandre O´Neill

A UNIFICAÇÃO DA POESIA E DA RAZÃO

42x92cm
óleo sobre serapilheira sobre platex
2008


A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar
Por isso fecho os olhos
(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da
provocação. É assim que te faço arder triunfalmente
onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)
Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher
E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência
Nua nos meus braços
*
Experimento um grito
Contra o teu silêncio
Experimento um silêncio
Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos
Alexandre O´Neill

O PECADO ORIGINAL SEGUNDO A BÍBLIA OU LÁ O QUE SEJA

25x31cm
óleo sobre tela sobre platex
2008


Glorifiquei-te no eterno.
Eterno dentro de mim
fora de mim perecível.
Para que desses um sentido
a uma sede indefinível.
Para que desses um nome
à exactidão do instante
do fruto que cai na terra
sempre perpendicular
à humidade onde fica.
E o que acontece durante
na rapidez da descida
é a explicação da vida.

Natália Correia

A ESPERA

56,5x57cm
técnica mista sobre MDF
2008


Ah
onde estão os relógios que nos davam
o tempo generoso
os dedos virtuosos os pezinhos
musicais do tempo
as salas onde o luxo abria as asas e voava de cadeira em cadeira
de sorriso em sorriso
até cair exausto mas feliz
na almofada muito azul do sono
Onde está o amor a sublime
rosa que os amantes desfolhavam
tão alheios a tudo raptados
pela mão aristocrática do tempo
o amor feito nos braços no regaço
de um tempo fácil
perdulário
vosso
Hoje não é fácil o tempo
já não é vosso o tempo
viajantes do sonho que divide
doces irmãos da rosa
colunas do templo do Imóvel
prudentes amigos da vertigem
deliciados poetas duma angústia
sem vísceras reaisj
á não é vosso o tempo.
Noivas do invisível
não é vosso o tempo
Relógios do eterno
não é vosso o tempo
Alexandre O'Neill

O JARDIM DAS DELÍCIAS

100x60cm
óleo sobre tela
2007

"Entregou-se tanto ao vício da luxúria
que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer,
para cancelar a censura que merecia..."

Alighieri Dante in "Inferno"

AS CAIXAS CHINESAS

50x60cm
óleo sobre tela
2008

O mistério do mundo,
O íntimo, horroroso, desolado,
Verdadeiro mistério da existência,
Consiste em haver esse mistério.
Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério.
Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar…
Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem.
São-no ou não?
Que é ser sem o saber?
Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
Quanto mais claro
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
Menos me sinto compreendido.
Ó horror paradoxal deste pensar…
Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n’alma essa alegria!

Fernando Pessoa

O EXÍLIO

34x40cm
óleo sobre tela sobre platex
2008

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

Fernando Pessoa

O HOMEM QUE VIA OS AVIÕES A AVIAR


34x40cm (mancha: 20x20cm)
técnica mista
2008
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa– os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa

O AMOR PLATÓNICO

50x60cm
óleo sobre tela
2008

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Fernando Pessoa

O LEQUE CHINÊS

50x60cm
óleo sobre tela
2007

Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não ?
Não sei.
Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido.
Mas tão de leve !...
Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa
Incompreendida...
Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço ?
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa

D. QUIXOTE

67,5x50cm
óleo sobre tela sobre platex
2005


Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.
Fernando Pessoa

O YAN E O YON

60x100cm
óleo sobre tela
2007

Tenho tanto sentimento
Que e' frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheco, ao medir-me,
Que tudo isso e' pensamento,
Que nao senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguémNos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

O ENIGMA DA ESFINGE

50,5x61,5cm
óleo sobre tela
2006


Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém escrever,
A verdadeira história da humanidade.
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade - o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza - o propósito à mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela da sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois do jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui?
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão
Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!
Quantos Césares fui?
Quantos Césares fui?
Quantos Césares fui?

Fernando Pessoa

A MARGINAL

40x50cm
óleo sobre tela
2009

Vida que às costas me levas
porque não dás um corpo às tuas trevas?
Porque não dás um som àquela voz
que quer rasgar o teu silêncio em nós?
Porque não dás à pálpebra que pede
aquele olhar que em ti se perde?
Porque não dás vestidos à nudez
que só tu vês?

Natália Correia

A INDIFERENÇA

61x51cm
óleo sobre cartão telado
2007

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?
E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.

Fernando Pessoa

O INSTANTE ABSOLUTO


100x60cm
óleo sobre tela
2007

O Universo é feito essencialmente de coisa
nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão

TRÊS HISTÓRIAS DE AMOR E UMA PAISAGEM ESTRANHA


100 x 60 cm
óleo sobre tela
2005

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca

Victor Silva Barros

Victor Silva Barros

Exposições recentes

1997.Galeria da Cooperativa Grão a Grão - Figueira da Foz (individual)
Museu Municipal Ramos Ma. Aller Lalin (Galiza) (individual)
Casa da Cultura Fafe (colectiva)
Galeria Convés – Quiaios - (colectiva)
«2º Prémio de Pintura Eixo Atlântico Casa das Artes. Vigo
1998- Itinerância Viana do Castelo Porto
Guimarães Vila Nova de Gaia Peso da Régua Vila Real, Chaves, Bragança, Ourense, Monforte, Lugo, Ferrol, Corunha, Santiago de Compostela, Vila Garcia, Pontevedra, Braga
Galeria Municipal de Aveiro (com Arnaldo e Armindo Salgueiral)
Galeria da Unesco Porto
1999-Galeria Municipal, Caminha (individual)
2000- Museu Martins Sarmento Guimarães (individual)
Arte do Tempo Viana do Castelo (individual)
Galeria do Turismo Ponte de Lima (individual)
«Festa da Alegria colectiva de Artistas Vianenses» Braga
«Arte e Solidariedade» Galeria do Arquivo Distrital Viana do Castelo (colectiva)
2001- Galeria da Unesco, Porto (individual)
«V Bienal de Lalin - Pintor Laxeiro» - Lalin- (Galiza)
2002-«Colectiva de Serigrafia» -Etnia-Caminha
2003-Galeria do Instituto da Juventude, Viana do Castelo(individual)
2004-Arte do Tempo Viana do Castelo (com Arnaldo)
2005-XCV Aniversário Colectiva de Pintura, Viana Taurino Club, Viana do Castelo
2006-Galeria Capitel Leiria (individual)
Casa da Cultura Fafe (individual)
Antigos Paços do Concelho Viana do Castelo (individual)
2007-Galeria Almedina, Coimbra

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