óleo sobre tela
2008
O mistério do mundo,
O íntimo, horroroso, desolado,
Verdadeiro mistério da existência,
Consiste em haver esse mistério.
Não é a dor de já não poder crer
Que m’oprime, nem a de não saber,
Mas apenas completamente o horror
De ter visto o mistério frente a frente,
De tê-lo visto e compreendido em toda
A sua infinidade de mistério.
Quanto mais fundamente penso, mais
Profundamente me descompreendo.
O saber é a inconsciência de ignorar…
Só a inocência e a ignorância são
Felizes, mas não o sabem.
São-no ou não?
Que é ser sem o saber?
Ser, como a pedra,
Um lugar, nada mais.
Quanto mais claro
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo.
Quanto mais compreendo
Menos me sinto compreendido.
Ó horror paradoxal deste pensar…
Alegres camponesas, raparigas alegres e ditosas,
Como me amarga n’alma essa alegria!
Fernando Pessoa
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